Quem trabalha não tem tempo de ganhar dinheiro.

| Posted in | Posted on 20.7.10

Pois é...há tempos que ouvi esta frase, e devo confessar, há momentos em que eu quase acredito!
Especialmente em arquitetura, onde a necessidade de lidar com aspectos práticos, como saber o programa, saber das aspirações dos clientes, se mesclam com o lado psicológico, entender que muitas vezes o projeto é um sonho antigo do cliente.
Então, fazer um projeto completo exige habilidades tão diversas que não existe um tempo previsto para se finalizar um trabalho. Ter uma previsão envolve detalhar ou não demais, ir além. E, vamos confessar, arquitetura é tão abrangente que fica difícil não ter que definir paisagismo, decoração de interiores. Se o projeto for pensado, ninguém na obra decidirá contra ele, não é mesmo?
Dai, tercerizar, contratar estagiários, passar adiante decisões de estética e ficar somente com a orientação do todo, na verdade, para muitos arquitetos, significa abrir mão de parte da criação. Parece um tanto egoísta, mas para os que possuem segurança na sua capacidade, creio que o sentimento é comum.
Existem também os arquitetos produzidos pelo poder econômico. Na verdade empresários natos, que garimpam seus melhores colegas de faculdade e os contratam para fazer o que pessoalmente não tem tanta habilidade, o proprio projeto. São muitas vezes medíocres na criação, mas vorazes no saber vender o produto. Há também os engenheiros que transformam seu escritório em produtor de arquitetura de boa qualidade, simplesmente empregando arquitetos recém formados e com muito talento.
Na verdade, para um arquiteto, o dinheiro acaba sempre ficando em segundo plano, pois se deixa "explorar" pelo cliente, dando muitas vezes "dicas" nos corredores de supermercado das pequenas cidades. Até porque, se o cliente não for até o final do projeto com ele, corre o risco de adulterar a estética com detalhes provenientes de amigos ou revistas.
Para arquitetura é mais difícil se dar o devido valor que para algumas profissões, pois é ainda entendida como perfumaria, como alternativa cara de projeto.
Ninguém pede à um cadiologista para dar uma "dica" de qual remédio tomar, ninguém procura um cardiologista em lista telefônica e pechincha na hora de uma simples taquicardia. Quem faz propaganda de pasta dental? Claro, dentistas. Agora, quem faz indicação de um produto de construção? Um comediante, um pedreiro, até um mico.
Então, me parece que varorizar o trabalho do arquiteto a ponto de se poder cobrar pelo serviço de maneira dígna, sem ter que contar com parcerias, é um trabalho árduo de conscientização em geral do próprio arquiteto. Ao conseguir isso, se puder trabalhar sem ter que contar tostão, a criatividade não será mais terceirizada e a autoria de seus trabalhos destinada aos "escragiários".



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Comments (3)

Fá, minha irmã, que belo desabafo. A gente sempre troca não só idéias como experiências e sei bem do que está falando. É difícil a nossa vida profissional principalmente porque seguimos uma ética, um jeito de trabalhar e de encarar a nossa profissão que hoje é tão glamourisada e alvo de um mercado insano, cheio de picareta dando uma de gênio da contemporaneidade. Haja paciência. A gente conta os tostões mas não se vende a esse marketing barato e enganador. Os clientes bons e sensatos reconhecem nosso esforço e nosso profissionalismo. E quase sempre viram amigos...Um beijo e parabéns pelo texto.

Olá Fabiana,

Sou arquiteto e sei bem do que se trata tudo o que foi dito neste post. Realmente é uma profissão muito "prostituída" digamos assim, e muito marginalizada ou rotulada pela população como algo desnecessário ou apenas para o glamour.
O vídeo acima é excelente! Nunca havia visto e achei genial, retrata muito bem as situações que enfrentamos no dia a dia do escritório.
Sou sócio do escritório PAGAMA arquitetura, e temos um Blog também para suprir nossa necessidade de dissertar sobre os assuntos que envolvem a arquitetura, como forma de tentar aproximar nossa profissão às pessoas interessadas e levar conhecimento àquelas com pouca intimidade no assunto e no cotidiano de um arquiteto. Afinal de contas o problema é cultural e de falta de conhecimento.
A pouco escrevi algo semelhante ao seu post, gostaria que prestigiasse.
https://pagamaarquitetura.wordpress.com/2010/03/15/17/

Parabéns e vamos continuar com esse olhar crítico sobre as questões que envolvem mais do que uma profissão, mas sim edifícios, vias, bairros, cidades e etc.

Um Abraço,

Arq. Paulo Henrique Cuconati

Oi Fabiana,
Parabéns pelo texto. Excelente.
Acho que um dos problemas do arquiteto é sua tendência artística. Percebo que quanto mais artista uma pessoa é, menos agressivo comercialmente ele se torna. Infelizmente. Nem sei se bastaria a universidade ter no currículo matérias de caráter financeiro/gerencial. É por isso que artistas plasticos ou músicos que querem alavancar suas carreiras possuem EMPRESÁRIOS. Particularmente, hoje, eu ainda estou "escolhendo" trabalhar com a criação. O que é a arquitetura sem a criação... Será que sendo empresários da arquitetura seríamos competentes? Então é bom se conhecer e escolher o caminho mais conveniente...
abç
Roberto Machado
arq-roberto@blogspot.com

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