Jazz, praia e cama de faquir

| Posted in , , , | Posted on 16.6.10



O feriado que passou fomos para Rio das Ostras. Uma cidade muito interessante que fica na região dos lagos, no estado do Rio de Janeiro.


Motivo principal da escolha: o Rio das Ostras Jazz Festival. A idéia surgiu quando comecei a pesquisar na internet algum roteiro para o feriado, algum destino para descansar e relaxar. Foi aí que apareceu no Google o site do Festival, que acontece todo ano no feriado de Corpus Christi. Esse festival é bem conhecido por alguns que transitam ou se aventuram pelo universo do jazz no Brasil. Já passaram nos palcos de Rio das Ostras nomes como Stanley Jordan (que voltou novamente esse ano), Jane Monheit, John Scofield, Mike Stern, Richard Bona, James Carter, T.S. Monk, Robben Ford, Ravi Coltrane,Yamandú Costa, Naná Vasconcellos, Sérgio Dias, Hamilton de Holanda, Celso Blues Boy, Léo Gandelman, Egberto Gismonti entre outros.

Nessa edição o Festival trouxe Ron Carter como principal e mais aguardada atração.
O cara é um dos poucos remanescentes e protagonistas da melhor fase da história do Jazz até hoje. Um contrabaixista classudo, talentoso e dedicado que tocou com vários nomes conhecidos do jazz; tocou no quinteto de Miles Davis de 1963 a 1968, além de ter tocado com: Tommy Flanagan, Gil Evans, Bill Evans, Dexter Gordon, Wes Montgomery, Eric Dolphy, Cannonball Adderley, Thelonious Monk, Sonny Rollins, McCoy Tyner, Freddie Hubbard, e muitos outros (fonte: http://www.ejazz.com.br/detalhes-artistas.asp?cd=39).

A apresentação do Ron Carter foi comovente, principalmente quando ele e o pianista (um espetáculo a parte) Mulgrew Miller tocaram o standart My Funny Valentine. Foi incrível e, para mim que sou leiga no assunto, valeu o Festival.




Chegamos na cidade na sexta-feira justamente para ver o Ron e seu trio que começou pontualmente a tocar às 20:15h. Saímos de Ribeirão por volta do meio dia e chegamos ao Rio de Janeiro às 13:30. Essa chegada foi surpreendente. Eu nunca tinha ido ao Rio de avião e, pela primeira vez entendi a maravilha que tanto dizem que a cidade é. Realmente tira o fôlego ver o Rio de Janeiro da vista panorâmica que o avião nos proporciona ao aterrar no Santos Dumont, e nunca a música "Samba do Avião" fez tanto sentido pra mim. Fiquei cantarolando, para desespero do meu comparsa/marido: minha alma canta, vejo o Rio de Janeiro... Lindo, insuportavelmente lindo.
Mas ai veio a parte lapidante da viagem: rodoviária e 4 horas de ônibus até Rio das Ostras. Mas foi mais tranquilo do que imaginávamos, até porque conseguimos uma carona do aeroporto até a estação Novo Rio. Chegamos em Rio das Ostras por volta das 17:30h e na pousada do Norman Bates às 18:00h. Infelizmente perdemos a apresentação do Stanley Jordan, mas queríamos estar mais ou menos inteiros para assistir ao Ron Carter a noite. E foi assim que fomos. Mais ou menos inteiros e foi ótimo.

Não contávamos apenas com o que nos esperava na pousada. Uma cama especialmente dura que o Jon e eu carinhosamente apelidamos de Cama de Faquir. A gente dormiu cansado e acordou exausto. Parecia que um rolo compressor tinha me quebrado os ossinhos todos. O café da manhã parecia compensar um pouco esse sofrimento, mas foi só molhar o bico e chega a moça que serve o café para nos colocar a par de todas as barbáries e miserê em que Rio das Ostras está mergulhada, coisas que não passam na televisão porque o prefeito é amigo da Globo. Acho que ela percebeu que a gente não estava com a cara muito boa para a realidade nua e crua. Então ela quis falar do festival: nossa, o Roncati é bom demais... canta muito! Ai, misericórdia.

Fomos para a rua, tentar apreciar a natureza e exuberância da cidade. Ficamos hospedados no bairro Costazul, onde fica a Cidade do Jazz, palco das principais atrações do festival. Muito bonito, todo urbanizado, um projeto de paisagismo bem feito, a orla toda bem cuidada, com ciclovia e decks com quiosques. Muitas lojinhas, artesanato e bons restaurantes.






No domingo a noite a gente pode ver que o bairro vira um deserto em dias normais, quase uma cidade fantasma. Parecia que tudo aquilo não passava de cenografia. Mas durante o festival a noite fervia, os bares ficavam abarrotados e todos com som ao vivo e música boa. Pena que a gente estava quebrado e a cama de faquir nos deixava a cada dia mais doloridos e com o humor oscilante.
Fomos ver um show na praia da Tartaruga no sábado a tarde. O palco foi montado sobre um rochedo dentro do mar. Um visual incrível. A banda também foi muito boa: o trompetista de New Orleans Michael “Patches” Stewart.


Balanço geral da experiência: o festival é muito bom, muito bem organizado, além dos shows serem totalmente abertos ao público. Vale a pena ir para o festival com um grupo de pessoas e ficar numa pousada na Costazul (reserve com bastante antecedencia) que ofereça uma cama o mínimo confortável, pois a correria é grande durante os dias: são quatro palcos espalhados pela cidade que também oferece ótimas atrações nos bares a noite. Os shows são pontuais e esqueça o modelito Riviera francesa em casa. O que vale mesmo é um bom tênis, a boa e velha calça jeans e uma agasalho bem quentinho. Até dá para pegar um sol, andar na praia e salgar os pés. Mas na maior parte do dia faz frio e venta muito.
Ah, e sobre a arquitetura local: tem belas casas e pousadas, muita madeira, vidro e telhados com estilo colonial. Mas nada que eu tenha visto me chamou a muito a atenção. Culpa da cama de faquir? Talvez da próxima vez.

Post: Mariana.

Comments (2)

Oi, Mari. Tudo bom?
Esse festival deve ter sido incrível! Valeu pela dica e por alertar sobre o porém das acomodações. Vou falar com a Cláudia - uma colega de trabalho, carioca, que sempre vai a Rio das Ostras com a família - e ver se ela me recomenda uma boa pousada por lá e te passo o nome depois.
Adorei a foto que mostra os decks e os jardins.
Um beijo,
Déa.

Oi Mari, querida... ainda estou em casa, a Helena ta bem tranquila onde ela esta...
Pensei em vc outro dia, pois vi que a Esperanza Spalding vai tocar numa cidadezinha aqui perto de Grenoble começo de Julho... fiquei pensando o qto vc ia gostar e que vcs deveriam vir pra ca num dia desses, principalmente nessa época, onde começam todos os festivais não so de musica e todas as cidades ficam movimentadas, mesmo as minusculas! Realmente os franceses aproveitam bem do verão deles...também, depois de tanto frio, todo mundo quer mais é lagartear no sol até tarde...(o sol se põe quase às 10h). Beijo enorme nosso

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