
Gosto quando clientes e projetos em andamento me instigam a pesquisar, a relembrar matérias da faculdade e a utilizar teorias para serem aplicadas na prática. A questão aqui é a cozinha. Para alguns deve ser um
cômodo restrito, longe ou bem delimitado da área social da casa. Mas o que vemos hoje é um encantamento pela cozinha. Ela virou a
vedete de muitos
projetos, dos
modernosos aos tradicionais. Na feira do livro de Ribeirão Preto desse ano adquiri o
“Cozinha Modelo – O impacto do Gás e da Eletricidade na Casa Paulista (1870-1930)” (SILVA, João Luiz Máximo da, 2008). Trata-se de uma pesquisa de mestrado de um historiador que analisa, entre outras coisas, a evolução do uso e dos equipamentos destinados a cozinha, a construção de uma nova identidade feminina, a evolução da indústria de
UD, etc. “A cozinha, antes voltada para o exterior, e o banheiro, posicionado nos fundos do quintal, puderam entrar nos interiores” graças, por exemplo, a luz artificial, ao uso do gás para
cocção e a água nas torneiras.Coisas que raramente paramos para pensar e que mudaram definitivamente, com o passar dos anos, os modos de vida, os costumes, a planta da casa da família moderna. Fica aí um gancho para vários outros assuntos...
Nessa rotina de pesquisa e
projetos eis que surge o famoso
work triangle. Um princípio
ergonômico originado no início do século XX nas fábricas de automóveis (FORD) e que trata da
otimização do espaço do montador ou operário de tal forma que ele precise se mover o mínimo possível para realizar o seu conjunto específico de
ações. Uma
idéia tipicamente americana e capitalista. Críticas ideológicas a parte, a verdade é que herdamos essa maneira de organizar a vida; os
arquitetos se apoderaram desse conceito e o empregaram especificamente para organizar espaços como a cozinha. O triângulo de trabalho serve para orientar a forma de dispor os equipamentos refrigerador-pia-fogão na cozinha de tal modo que as
ações sejam elaboradas de maneira funcional, com a máxima eficácia, evitando o risco de acidentes e
congestionamento de pessoas dentro do
cômodo. A partir dessa
idéia, foram estipuladas algumas regras como:





Hoje os
arquitetos precisam dar conta de inúmeros outros equipamentos que não eram previstos nas cozinhas das décadas de 1940 e 1950 (quando o
triângulo de trabalho começou a ser difundido na formação dos
profissionais de
arquitetura). A cozinha
contemporânea, além de ser um ambiente cada vez mais elaborado e ostentado nas casas, precisa prever o fluxo de moradores, visitantes e a utilização de utensílios de ultima geração. Com os canais a cabo, grandes cozinheiros entraram nas casas das pessoas, incentivando e instigando o prazer em cozinhar e receber, em descobrir novos utensílios, ingredientes e receitas. A disseminação de
idéias práticas e ecológicas, o movimento do
slowfood e o conceito da
ecogastronomia vem trazer uma nova realidade no
cotidiano das pessoas, no ato de consumir e de comer, no prazer da alimentação com consciência e responsabilidade, no reconhecimento das conexões entre a cozinha e o planeta. Por falar em consumo, as panelas são cada vez mais bonitas, coloridas e devem estar expostas; as batedeiras e
liquidificadores estilo
vintage querem estar a mostra na bancada; Os vasos com ervas aromáticas, temperos de todas as partes do mundo, facas em seus cepos
ultra-modernos precisam estar a mão do mestre-
cuca em
ação. Enfim, a cozinha não é mais um campo de batalha, muito menos uma linha de montagem. É
bacana respeitar o
work triangle desde que as necessidades da nova cozinha e seu
status de
protagonista na vida da família não sejam esquecidos. (postado por Mariana).











